Como sabem, sou uma pessoa dada à viagem e à aventura. Sempre que possível, cá ando eu pelos caminhos de Portugal e do Mundo, com o meu conta quilómetros a zeros, como se fosse sempre a primeira vez.

 O Brasil não é excepção. Parti do zero, com alguma expectativa depois de ouvir tanta gente e tantas opiniões, mas sempre a zeros no que diz respeito a planos e rotas muito bem traçadas. O melhor de viajar, como já vos disse anteriormente, é partir à descoberta, vivendo um dia de cada vez e aceitando tudo o que a sorte nos reserva. 

Ora, aqui, não tem sido diferente. No entanto, o Brasil é (porventura a seguir ao Kosovo) o país que mais desafios me tem colocado e aquele que mais me tem posto à prova no que diz respeito à insegurança e ao sobressalto.

Por outro lado, é também o país que mais diversidade de coisas me tem mostrado, que mais riqueza natural me apresentou e que mais “WOW-moments” me tem proporcionado.

Há-de ser, pois, motivo de destaque, para sempre, na minha caderneta de viagens.

Voltando ao fim-de-semana em questão, mas ainda relacionando com o que disse acima, ele teve muito de ambas as coisas. Momentos de, digamos, algum temorzinho, vá, e outros de fazer cair o queixo de deslumbramento.

Balanço final: VÃO A BÚZIOS!

 “E porquê?”, perguntam vocês, meus queridos e mais recentes leitores, que muito alegre me deixam com a atenção que me dispensam. E eu respondo: porque, apesar de todo o stress que existe para sair e reentrar na cidade do Rio de Janeiro de carro, o esforço vale muito a pena.

Começando pelo sábado, a Movida foi a locadora escolhida para o aluguel do nosso automóvel, um maquinão, claro está.

Falando a sério, a única coisa que deixou mais a desejar foi a lentidão no atendimento, tanto na partida como na chegada, mas os preços eram os mais acessíveis de todos e acho que até ficou bastante em conta para um HB20 com ar-condicionado.

A partir daqui, é fé em Deus e pé na estrada.

Para sair do Rio, até nem foi difícil. É pegar o Túnel Rebouças, et voilá, estamos numa outra dimensão do Rio, como nos dizia, e bem, o nosso anfitrião de Búzios. Daí ao porto e à favela do Caju é um tirinho e fica a faltar a ponte que nos leva à outra margem da Baía de Guanabara para chegarmos a Niterói, uma espécie de Margem Sul cá do sítio. Notam-se muito as diferenças de uma margem para a outra. Niterói é uma espécie de lugar esquecido. Aquele onde ninguém quer morar, aquele de que todos fazem troça. Como o tal “deserto”.

Depois é são Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito e o resto é seguir pela Via Lagos, destino Região dos Lagos, Armação dos Búzios.

Claro que nos perdemos no caminho. O GPS é para esquecer. Não só nos leva para caminhos que não são os melhores, como também é duvidoso na hora de virar para o sítio certo. Já para não falar que um telefone-supostamente-inteligente não se aguenta nem metade de uma viagem destas, é demasiada informação e calor. E os retornos são difíceis de encontrar.

As estradas equivalem às nossas nacionais ou, com um bocadinho de sorte, a uma IC. São 183 km que se fazem em mais de 3 horas e meia. E isto num dia de sorte, com “pouco” trânsito.

Quando chegamos a Búzios, temos plena noção de que a parte turística da cidade é uma coisa muito recente. Embora já seja destino de férias para muitos brasileiros e franceses desde a década de 50, incluindo a famosíssima actriz Brigitte Bardot – que ainda hoje tem uma estátua sua na marginal da cidade, a Orla Bardot -, só em 1995 é que Búzios se torna independente de Cabo Frio e passa, assim, a ser um município autónomo.

Embora continue a ser uma terra de pescadores, a principal actividade de Búzios é mesmo o turismo. É tão conhecida que, em 2014, por altura da Copa do Mundo, Leonardo DiCaprio fechou uma boate para dar uma festa privada com 50 “amigas”.

A Rua das Pedras é conhecida por ser o centro comercial e nocturno da cidade. Todas as marcas famosas estão lá, tais como Havaianas, Osklen, Farm, entre outras. A maior parte delas têm lojas com varandas sobre o mar, outras estão em galerias interiores, a fazer lembrar um pouco Capri, até no preço. Tudo em Búzios é muito mais caro. E eu que pensei que fosse impossível ficar mais caro que no Rio.

O resto é paisagem. Mas que paisagem. Armação dos Búzios é uma pequena península, constituída por inúmeras praias e praiinhas. Umas na zona Norte, a mais quente, e outras na zona Sul, a mais fria.

Geribá, a sul, foi a primeira a que fomos. O areal deve ser dos maiores, se não o maior de todos. Quando nos falaram em água fria nós pensámos: “Claro, deve ser muito fria... o frio deles não é o mesmo que o nosso.” Mas afinal aquilo já se aproximava mais à Ericeira do que aquilo que eu poderia esperar. Ainda assim, a altura era de águas mais "quentes" e o mar estava cheio de alforrecas. É um óptimo lugar para quem gosta de paddle-surf ou, como chamam aqui, “stand-up”.

Ao cruzar para o lado Norte, notamos a diferença na temperatura. O problema é que Manguinhos não tem areal, a água bate na parede dos empreendimentos turísticos.

Seguiram-se Ferradura e Ferradurinha,  Azeda e Azedinha, João Fernandes e João Fernandinho (sim, uma é a grande, outra é a pequena). A praia da Tartaruga também parece valer a pena para fazer mergulho e ver tartarugas mas é quando as águas não estão contaminadas. Tivemos azar, uns barcos tinham acabado de efectuar os seus despejos no mar. O acesso estava interdito.

Praia da Azeda

Praia da Azedinha

A estadia foi na Pousada Recanto das Roses. Muito pitoresca, asseada e perfeita para aquilo que queríamos. Bem ao estilo “pousada de novela”. O sr. Teixeira, o dono, explicou-nos o que precisávamos de saber, mostrou-nos o mapa, deixámos o carro dentro do pátio e fomos a pé para as praias de Geribá e Manguinhos.

No domingo, café da manhã, este sim, como manda a lei! O sr. Teixeira falou-nos da sua paixão por futebol, da febre clubística de alguns dos seus hóspedes, da abundância de argentinos por Búzios (verdade, nós vimos) e da sua terra natal, Petrópolis. Disse-nos que fomos os primeiros portugueses a ficar na sua pousada e nós achamos que deixámos boa impressão.

Recomendo muito o Porto da Barra, sobretudo se for para jantar, mas se for para passear também é óptimo. É um local com imensos restaurantes e todos com óptimo aspecto, cafés/padarias e lojas de decoração giríssimas.

Foi lá que descobrimos o Donna Jô, restaurante super bem decorado e com comida top-of-the-top, esplanada mesmo em cima do mar, com loungezinho e tudo, área para crianças e cozinha aberta a quem quiser ver.

E o restaurante português mais badalado do momento por aqui, o Cais de Gaia, onde conhecemos os simpáticos Joel e Joana, dois irmãos portugueses mas ele com sotaque do Porto e ela com sotaque brasileiríssimo. Sardinhada com pimentos e broa, tudo temperado no ponto, sucos de goiaba e de uva divinais, duas bicas (ou cimbalinos, já que é do Norte, pronto) e, para terminar em beleza, um moscatel, oferta da casa. Ficámos imenso tempo à conversa com eles e só parámos porque tínhamos que regressar.

O regresso foi outra aventura. A volta à cidade ainda demorou mais tempo e teve mais enganos que a saída. Metemo-nos por caminhos que me fizeram roer as unhas e o telemóvel, para variar, mortinho da silva. Com o Carnaval à porta, as bandas e os blocos de rua já estão a trazer verdadeiras enchentes (o que significa ruas cortadas e muuuuuito trânsito) a toda a cidade. Só neste fim-de-semana, foi contabilizado um milhão de pessoas nas ruas do Rio.

Se o pré-Carnaval já é assim, imaginem o próprio. Contarei tudo, aqui, no sítio do costume. Mi aguardem!

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Oh Búzios, Búzios.

As you all know, I am a travel and adventure person. Whenever possible, here I go, stride the roads of Portugal and the World, with my odometer to zero, as if it were always the first time.

Brazil is no exception. I started from scratch, with some expectations after hearing so many people and so many opinions, but always to zeros with respect to precise plans and routes. The best of traveling, as I said earlier, is the discovery, living one day at a time and accepting everything that luck holds.

Here it has not been different. However, Brazil is (maybe after Kosovo) the country that more challenges has placed me, the one that has confronted me with insecurity and intimidation on a higher level.

On the other hand, it is the country that has a higher range of diversity of everything, it has also shown me most of the natural richness of the world and introduced me to more "WOW moments".

It will be, therefore, a noticeable feature in my travel book forever.

Back to this weekend, but still relating to what I said above, it had lots of both things. Moments of, let’s say, some apprehension and some chin-dropping moments.

Bottom line: GO TO BÚZIOS!

 "Why?", you, dear readers, ask me. And I answer: because, despite all the stress that you go through to exit and reenter the city of Rio de Janeiro by car, the effort is really worth it.

Starting with Saturday, Movida was the best choice for our car rental, a nice ride, of course. The only thing that was not so good was the slowness in attendance to the public, both on departure and arrival, but the prices were more accessible and I think it was quite fair for a Hyundai HB20 with air-conditioning.

From then on, it was faith in God and hit the road (Brazilian expression).

To leave Rio, it was not so difficult. You take the tunnel Rebouças, et voilá, you’re in another dimension of the city, just as our host in Búzios told us. To the port and the Caju favela it is really quick and then you head to the bridge that brings you to the other side of Guanabara Bay, to get to Niterói, kind of South Margin of Tejo River (Lisboa-Setúbal). You can see the big differences from one side to the other. Niteroi is a kind of forgotten place. It is the one where no one wants to live, the one that all make fun of. Just like in the “Lisboa-South Margin” mocking.

After that, it is São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito and then you follow the Via Lagos, destination Lakes Region, Armação dos Búzios.

Of course we got lost on the way. GPS was not a good help. Not only it leads you to the worst routes, but it is also doubtful when it is time to turn to the right place. Not to mention that a supposedly-smartphone cannot “survive” even half of a trip like this, it looks like it is too much information and heat for it. And the turnarounds, oh man, those are hard to find.

The roads are equivalent to our national roads or, with a little bit of luck, an IC (which is the Portuguese designation for a Complementary/Secondary Road). You make 183 km in more than 3 hours. And this on a lucky day, with "little" traffic.

When we arrived in Búzios, we are fully aware that the tourist part of town is a very recent thing. Although it was already a holiday destination for many Brazilian and French since the 50s, including the very famous actress Brigitte Bardot - which still has a statue on the waterfront road, Orla Bardot – it was only in 1995 that Búzios became independent from Cabo Frio and was converted, thus, into an autonomous municipality.

While it still remains a fishermen’s village, the main activity of Búzios is mainly tourism. It is so renowned that in 2014, around the time of the World Cup, Leonardo DiCaprio closed a club to give a private party with 50 female "friends".

Rua das Pedras (Stone street) is known to be the shopping and nightlife center of the city. All the famous brands are there, such as Havaianas, Osklen, Farm, among others. Most of them have shops with balconies overlooking the sea; others are located in indoor galleries, which reminds us a little bit of Capri, also in the price. Everything in Búzios is much more expensive. And I thought it was impossible to get more expensive than Rio.

The rest is landscape. But what a landscape! Armação dos Búzios is a small peninsula, consisting of numerous beaches and little beaches. Some in the north -the hottest -, and the others in the south - the coldest.

Geribá, in the south, was the first one we went to. This one must have one of the greatest shores, if not the greatest. When people told us about the cold water we thought, "Sure, it must be very cold ... Brazilian cold is not the same as ours." But after all it was closer to Ericeira (very cold) than what I would expect. Still, it was a “warmer” season and the sea was full of jellyfish. It's also a great place for those who like to paddle surf or, as they call it here, "stand-up".

When crossing to the north side, we note the difference in temperature. The problem is that Manguinhos has no sand, the water hits the walls of the beach facilities.

Then, we went to Ferradura and Ferradurinha, Azeda and Azedinha, João Fernandes and João Fernandinho (yes, the first is the big one and the second is the small one). The Tartaruga beach also seemed worth it because you can dive and see real turtles but when we went there the water was contaminated. We were unlucky, some boats had just made their spillage at sea. The access was forbidden.

We stayed at the Pousada Recanto das Roses. Very picturesque, clean and perfect for what we wanted. “Telenovelas-style”. Mr. Teixeira, the owner, explained to us what we needed to know, showed us the map, we parked the car in the courtyard and walked to Geribá and Manguinhos beaches.

On Sunday, the breakfast was amazing! Mr. Teixeira told us about his passion for football, the “team-fever” of some of the guests, the abundance of Argentines in Búzios (actually, most of the people we saw were Argentines) and his homeland, Petrópolis. He told us that we were the first Portuguese to stay in their guesthouse and we think we left a good impression.

I highly recommend Porto da Barra, especially for dinner, but if it is just for a walk it is also great. It is a place with many restaurants and cafes/bakeries, all looking great and cute decoration shops.

There, we discovered Dona Jô, a super nicely decorated restaurant and top of-the-top food, with a terrace over the sea, a lounge area and all, children's area and open-kitchen to anyone who wants to take a look at it; and the Portuguese hippest restaurant of the moment there, Cais de Gaia, where we met the friendly Joel and Joan, two Portuguese brothers, he had an accent from Porto and she had a very Brazilian accent. Sardines with peppers and cornbread, perfectly seasoned, delicious guava and grape juice, two bicas (espressos - or cimbalinos, as they call it in the North of Portugal) and, to finish beautifully, a Muscat, on the house. We stayed there chatting with them for quite a while and only we stopped because we had to hit the road again.

The return was another adventure. It took even longer and had more mistakes than when we left the city. We got into tracks that made me bite my nails and the “smartphone”, for a change, as dead as it can be. With Carnival right around the corner, bands and street blocks are already bringing true floods (which means cutting roads and a lot of traffic) to the entire city. Just this weekend, a million people was recorded in Rio's streets.

If the pre-Carnival is already like this… well, imagine the Carnival. I will tell you all here, in the usual place. Wait for it!